domingo, 25 de abril de 2010

Toda arquitetura é linguagem.

“Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?”

São Paulo, 1 Cor 3, 16

Partir desse pressuposto é algo extremamente interessante, principalmente se pensarmos que também a liturgia tem uma linguagem própria e que ambas,  arquitetura e liturgia, em suas linguagens compartilham muitas vezes dos mesmos caracteres: a linguagem dos símbolos.



Prescindindo de uma análise mais apurada – afinal existe uma ciência que lida em profundidade com essa temática: a semiótica -, o símbolo tem a virtude de nos remeter, a partir de uma realidade dada, à uma realidade mais abrangente, mais profunda.


Ernest Cassirer, o célebre filósofo dizia com razão que a melhor definição para o homem não era a de que ele é um animal racional, mas sim, a definição mais abrangente de que ele é um animal simbólico. De fato, nós conseguimos enxergar nas coisas realidades que os outros animais não vêem.
 
Nesse sentido, quem não se lembra da célebre passagem contida na obra prima de Saint-Exupery, “O Pequeno Príncipe”, na qual a raposa, ao encontrar o principezinho, tem sua vida transformada: a partir daquele encontro, os campos de trigo dourado, que não tinham uma particular importância para ela – a raposa, animal sabidamente carnívoro e na realidade nada afeito aos símbolos! – agora eram a imagem simbólica da presença do amigo.


Aqui no Brasil, algo nessa mesma linha havia intuído já há algum tempo atrás Leonardo Boff: em seu livrinho “Os sacramentos da vida e a vida dos sacramentos” (Ed. Vozes), Boff nos abre novos horizontes sobre a questão simbólica ligada à idéia de sacramento, isto é, de presença real da divindade em meio à história humana, através de símbolos.


De fato, já Santo Agostinho nos ensinava que o sacramento é a forma visível da graça invisível. Essa afirmação tem um sabor muito forte seja para a liturgia, seja para a arquitetura: se, como era costume dizer, em liturgia uma falha grave na forma pode invalidar um sacramento, o que dizer da arquitetura religiosa?



É óbvio que entre o conteúdo e a forma, parece que devemos conceder uma primazia ao conteúdo. Porém, não podemos subestimar as formas: por exemplo, quem consegue se lembrar da homilia que o padre fez por ocasião de sua primeira comunhão? Quase ninguém! Mas, em contrapartida, são muitos aqueles que se lembram da igreja onde fizeram sua primeira comunhão…
Quantas igrejas não apresentam atualmente falhas graves em suas formas as quais muitas vezes nos impedem um espírito de recolhimento para a oração e, ainda pior, não permitem uma celebração litúrgica ativamente participada – como preconizara o Concílio Vaticano II!




A arquitetura é linguagem e, como tal, quando entra no campo do sacro deve falar-nos de Deus. Na Igreja Antiga a arquitetura de uma igreja estava carregada de simbolismo: o presbitério (onde ficam os presbíteros), era visto como o lugar de Deus Pai; a chamada nave, onde ficam os fiéis (que são o corpo de Cristo!) é o lugar de Deus Filho, e a parte exterior, onde fica a massa informe das gentes é o lugar de Deus Espírito (que pairava sobre as águas primordiais, símbolo do caos, da não forma).


De algum modo, a igreja construção deveria dar visão à realidade do Deus Trindade que ‘quer que todos os homens sejam salvos’.



Por outro lado, se há uma certa sacralidade no espaço litúrgico, os mesmos Padres da Igreja sabiam muito bem que não eram as paredes das igrejas que faziam das pessoas bons cristãos; para eles não basta apenas ir à igreja construção para se dizer cristão, mas é necessário ser ‘tijolo’, isto é, ‘membro’ da igreja comunidade, através da aderência da vida à fé e do recebimento da graça do Senhor.


De fato, já São Paulo havia compreendido em plenitude que o templo verdadeiro da Glória de Adonai, não é mais uma construção, mas sim o corpo humano.


Não obstante essa verdade essencial do Apóstolo, necessitamos de espaços que nos ajudem a entrar profundamente no mistério de Cristo – que é o Deus eterno e infinito que se faz tempo e espaço ao assumir um corpo - o qual, ‘morrendo destruiu nossa morte e ressuscitando restaurou nossa vida’.


Projetar uma igreja, ou mesmo reformar um espaço litúrgico, não tem nada de casual: é saber equilibrar forma, função e símbolo sacramental; é dar o passo primordial na evangelização do coração do homem através de uma linguagem acessível e, ao mesmo tempo, misteriosa.

Gabriel Frade

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Dom Adelbert Gresnicht e o Mosteiro de São Bento SP

(Monge artista responsável pela ornamentação interna da Basílica de Nossa Senhora da Assunção – Mosteiro de São Bento de São Paulo)

Charles Louis Gresnicht nasceu à 4 de Novembro de 1877 em Utrecht (Holanda). Iniciou seus estudos em desenho com o Prof. Van Geldorp, ainda muito jovem.



Em 1893 se apresentou na Abadia de Maredsous na Bélgica, para se tornar monge, onde desenvolveu seu gosto artístico. Depois de um ano foi enviado à Abadia de Beuron (Alemanha), onde trabalhou sob direção de Dom Desiderius Lenz.


No ano seguinte partiu para Praga (atual Republica Tcheca), onde os monges da “Escola Artística de Beuron” começavam a ornamentar a igreja dos Beneditinos de São Gabriel. Teve aí então, a oportunidade de se aperfeiçoar na arte religiosa e nas diferentes técnicas da profissão. Após uma aprendizagem de dois anos, aos 19 anos de idade, executou suas primeiras pinturas murais e, neste meio tempo, aprendeu modelagem. Retornou ao Mosteiro de Maredsous em 1896 para fazer o noviciado sob o nome de irmão Adelbert, sendo admitido à profissão monástica em 15 de Agosto de 1898.

Após os estudos filosóficos em seu mosteiro, estudou teologia no Colégio Santo Anselmo, em Roma, quando conheceu os tesouros artísticos da “Cidade Eterna” e das demais regiões da Itália.



Foi nesta época que Dom Didier Lenz, o mestre da “Escola Artística de Beuron” convidado pelo Abade Krug para ornamentar a cripta de São Bento em Montecassino, pediu ao padre Abade de Maredsous a autorização para que Dom Adelbert o acompanhasse, e a ele é confiada, na cripta uma parte importante do trabalho que consistia em uma frisa de mármore com cerca de trinta metros de comprimento e 1,30m de altura na qual deveriam ser esculpidas personagens ilustres da Ordem Beneditina que se dispunham em procissão ao túmulo de São Bento. Dom Adelbert se ocupou também da ornamentação geral da cripta que foi inaugurada solenemente no final do ano de 1913.


O então Abade do Mosteiro de São Bento de São Paulo, Dom Miguel Kruse, após admirar a obra de Dom Adelbert em Montecassino, solicitou sua colaboração para desenhar os planos de ornamentação geral da igreja abacial que acabara de construir em São Paulo. O jovem artista deveria consagrar dois anos a este trabalho, mas poucos meses após sua partida estourava a 1ª guerra mundial. O Abade de Maredsous, então, lhe determina ficar no Brasil e executar ele próprio as ornamentações previstas.



São Também de sua autoria a ornamentação da igreja de Santo Anselmo em Nova York (Estados Unidos da América), os planos para construção dos seminários regionais para a Universidade Católica de Pequin (China) e o monumento funerário do Papa Pio XI, nas criptas vaticanas.


Ir. João Baptista Barbosa Neto, OSB
(Monge do Mosteiro de São Bento de São Paulo)

Serviço:

Mosteiro de São Bento
Largo de São Bento, s/n - Centro -São Paulo

Tel.: (11) 3328-8799

Site: http://www.mosteiro.org.br/

quinta-feira, 15 de abril de 2010

IGREJAS DE MADEIRA NO PARANÁ

O fotógrafo Nego Miranda e a arquiteta Maria Cristina Wolff copilaram em um livro fotos de importantes construções sacras no Paraná.
O livro virou uma exposição que acontece em Curitiba até meados de maio de 2010.




Serviço
Exposição Igrejas de Madeira do Paraná.
Até o dia 16 de maio, na Galeria da Caixa
(Rua Conselheiro Laurindo, 280, centro), em Curitiba.
De terça-feira a sábado, das 10h às 21h, e aos domingos, das 10h às 19h. Entrada franca.
Informações: (41) 2118-5114.

terça-feira, 13 de abril de 2010

JOHN PIPER

John Piper (1903-1992)foi um pintor e gravurista inglês que se dedicou entre outras coisas a documentar a tipologia de igrejas e a produzir obras sacras modernas.
Vale a pena considerar sua maneira muito particular e pouco convencional de retratar figuras bíblicas e espaços sacros.


Confira abaixo um pouco de seu trabalho

postado por :Alfredo Pissinato Junior











fonte:http://www.johnpiper.org.uk/

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domingo, 11 de abril de 2010

Breve Guia - Patrimônio Histórico

A propósito da palestra na Expocatólica 2010 estou postando um pequeno guia sobre Preservação do Patrimônio.
Alfredo Pissinato Jr

1. O que é patrimônio cultural?



O artigo 216 da Constituição Federal define patrimônio cultural brasileiro como sendo os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade.


2. O que é tombamento?

É a preservação de bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e afetivo para a população por meio de um ato administrativo realizado pelo Poder Público, que determina que certos bens serão objeto de proteção especial.



3. Quem pode tombar o patrimônio histórico e artístico?

O tombamento pode ser feito nas três esferas de poder: federal, estadual e municipal. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é o órgão da União responsável pelo tombamento em nível federal. Nos estados, são os institutos do patrimônio histórico e artístico que podem executar essa tarefa. As prefeituras que possuem órgãos semelhantes também podem tombar um bem por meio de órgãos municipais de mesma natureza ou por meio de leis específicas ou pela legislação federal.



4. O que pode ser tombado?

Bens imóveis, áreas urbanas como centros históricos ou bairros; áreas naturais; e também bens móveis, como coleções de arte ou objetos representativos de um acontecimento histórico. Também é possível o registro do patrimônio imaterial, como o samba de roda do Recôncavo Baiano e o frevo. Além do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), algumas prefeituras e estados também possuem legislação própria sobre bens imateriais.

5. O registro de bens imateriais é o mesmo que tombamento?

Não. O registro é um instrumento de salvaguarda. Ao contrário do tombamento, cujo objetivo é a preservação das características originais de uma obra, seja móvel ou imóvel, o registro trata apenas de salvaguardar o desejo de uma comunidade em manter viva uma tradição, que pode vir a sofrer mudanças com o tempo. Um exemplo é o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, em que o registro preserva e repassa o saber do ofício da fabricação de panelas de barro feitas na cidade de Goiabeiras Velha, no Espírito Santo, que é indispensável para se fazer e servir a típica moqueca capixaba. Os livros de registros estão divididos em quatro categorias: Formas de Expressão, Celebrações, Lugares e Saberes.



6. Que tipo de proteção ganha um patrimônio imaterial ao entrar nesses livros de registro?

O objetivo é viabilizar projetos que ajudem a manter vivo o patrimônio cultural por meio de parcerias com instituições públicas e privadas, que irão colaborar com pesquisas e projetos que dêem suporte para sua continuidade. Dessa forma, tomando o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras como exemplo, pesquisas em universidades poderão ajudar a desenvolver alguma espécie de barro que substituía a substância natural utilizada na fabricação das panelas, por se tratar de um recurso natural finito.


7. Tombar um móvel ou imóvel significa desapropriá-lo?

Não. O direito à propriedade permanece inalterado após o tombamento.



8. Um móvel ou imóvel tombado pode ser vendido?

Sim. Mas, antes o imóvel deve ser oferecido para a União, para o estado e para os municípios, nessa ordem. Caso nenhum deles queira adquiri-lo, a venda para outros é autorizada.

9. É possível realizar reformas e/ou restauração no imóvel tombado?

Sim, desde que aprovado previamente pelo órgão que efetuou o tombamento.



10. Um imóvel tombado pode mudar de uso?

Depende. Para isso, é necessário que o novo uso não cause prejuízo ao bem e haja uma harmonia entre a preservação das características do edifício e as adaptações ao novo uso. É necessária ainda a aprovação do órgão responsável pelo tombamento. Há, porém, exceções, casos em que a alteração do tipo de uso não é permitida.

11. Quem é responsável pela conservação e restauração do móvel ou imóvel tombado?

O proprietário, que pode se candidatar para receber verbas de leis de incentivo à cultura ou a descontos de impostos prediais ou territoriais disponibilizados por algumas prefeituras.

12. O tombamento é a única forma de preservação?

O tombamento é apenas uma ferramenta para se preservar um bem. Apesar de ser considerada a mais confiável, existem outras formas de preservação, que é de responsabilidade da União, dos estados e dos municípios, conforme estabelece a Constituição Federal. De acordo com o Iphan, o inventário é a primeira forma para o reconhecimento da importância dos bens culturais e ambientais, por meio do registro de suas características principais. Os Planos Diretores das cidades também estabelecem formas de preservação do patrimônio, assim como a criação de leis específicas que estabeleçam incentivos à preservação.

13. Quem pode pedir o tombamento?

Qualquer pessoa pode pedir aos órgãos responsáveis pela preservação a abertura de estudo de tombamento de um bem.

14. Como acontece um processo de tombamento?

O pedido de abertura de processo de tombamento é avaliado por um corpo técnico, que vai analisar se o bem em questão tem valor histórico ou arquitetônico, cultural, ambiental ou afetivo para a população e irá encaminhá-lo ao responsáveis pela preservação. Caso seja aprovado, uma notificação é expedida ao seu proprietário e o estudo volta para o corpo técnico. Enquanto a decisão final é tomada, o imóvel fica legalmente protegido contra destruição ou descaracterizações. O processo termina com a inscrição no Livro Tombo e comunicação formal aos proprietários.

15. Os órgãos brasileiros também são responsáveis pelo tombamento do patrimônio da humanidade?

Não. Esse é o papel do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Ciência e a Cultura), integrado por representantes de 21 países, que se reúne anualmente para votar as avaliações feitas por comissões técnicas da entidade. O Brasil possui atualmente 18 patrimônios da humanidade e tem o compromisso de protegê-los e conservá-los.



16. Quais bens no Brasil são considerados tombados pelos órgão competentes?

O Brasil tem 18 bens considerados patrimônios da humanidade pela Unesco, sendo que a cidade de Ouro Preto, o centro histórico de Olinda, o Plano Piloto de Brasília e a Mata Atlântica (Reservas do Sudeste) estão entre eles. Já o Iphan tombou 676 itens, uma gama variada de bens que vai do Elevador Lacerda, em Salvador à Casa de Vidro de Lina Bo Bardi (SP). Já o Condephaat tombou edificações como a Estação da Luz (SP) e a coleção Mário de Andrade do acervo do IEB-USP. Órgão estaduais e municipais têm suas próprias relações.


Fonte: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat)

O Espaço Liturgico -Algumas Reflexões

Algumas reflexões sobre o Espaço Litúrgico
por Gabriel Frade
Abril 2010
“Pois nele [Deus] vivemos, nos movemos e existimos...” At 17, 28.






Tal qual compêndio de toda a revelação bíblica, os antigos formulários de profissão da fé começam com a grande afirmação da crença em um Deus “Pai, Todo-Poderoso, criador do céu e da terra”.



Exatamente como nos é apresentado no relato das origens: Deus, que é Trindade Santa (“Façamos o homem...”), que é espírito eterno e infinito que enche o universo e que paira sobre as águas primordiais, cria o tempo (“No princípio...”) e o espaço (“criou o céu e a terra”. cf. Gn 1, 1s).


A partir desse ato criador essas duas realidades fundamentais carregam consigo as marcas indeléveis das digitais de seu criador. São marcas que nos mostram a ação do Artista primordial, verdadeiros sinais sacramentais que nos “re-velam” uma presença do transcendente: é justamente por isso que podemos falar de um tempo, e de um espaço litúrgicos.


Por outro lado, para Deus, ser “arquiteto” sábio do espaço incomensurável (cf. Pr 8, 22ss) não fora o bastante: misteriosamente ele próprio se humilha ligando-se às suas criaturas, pois ao adentrar no mundo, ele ultrapassa todos os limites e entra em cheio na história humana (cf. Gal. 4,4). Ao assumir um corpo humano, ele próprio se faz “tempo” e “espaço”: vive com os homens, planta aí sua tenda (cf. Jo 1, 1s). Eis aí um grande mistério!


Vivendo em meio aos homens, ele se fez em tudo igual aos seus: santificando com sua presença silenciosa os espaços por onde passava, ele vive e trabalha como homem do povo. De fato, no Evangelho de Marcos, Cristo exerce a profissão humilde de “carpinteiro” (cf. Mc 6, 3).


Sabemos que no texto original, escrito em língua grega, a palavra usada pelo evangelista é “TEKTON”. Essa expressão, mais do que carpinteiro, nos fornece outras pistas: ela pode indicar uma realidade mais ampla, pode se referir também ao pedreiro, ao construtor de casas. De modo que nos é lícito pensar em Jesus como o “Arqui-tecto(n)” – arquiteto! - por excelência.


Talvez por isso Jesus tenha demonstrado um particular interesse pela construção do Templo: “Destruí vós este templo, e eu o reerguerei em três dias” (Jo 2, 19).


Além disso, ele, o Cristo, cumpre as profecias antigas, tornando “realidade” – ou, como diria São Paulo, “corpo” (cf. Col 2, 17) – aquilo que era apenas “sombra” no Antigo Testamento: “A pedra rejeitada pelos construtores, tornou-se a pedra angular (Sl 117,22)”. “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a constroem” (Sl 127,1).


Ele realizou em seu próprio corpo a tão esperada profecia de uma Nova Aliança (cf. Jr 31, 31) e inaugurou um novo e definitivo culto, onde ele é ao mesmo tempo o único e verdadeiro sumo-sacerdote/vítima.


Este novo culto realizado por Jesus de uma vez por todas é agora atualizado no tempo e no espaço da humanidade por sacerdotes novos (cf. Ap 1, 6; 5, 10) e tem lugar no verdadeiro Templo da Glória de Deus, que não mais é uma construção de pedras, mas sim – como diria Santo Irineu –, o próprio homem vivente (cf. 1Cor 3, 16; 6, 19).


Para se descrever a reunião desse povo sacerdotal, dessa realidade cultual nova, a palavra empregada é “Ekklesia” – assembléia convocada, em grego. Dessa expressão surgem as nossas palavras em português “eclesial”, “eclesiástico”, “igreja”, etc.


Dessa forma, o sentido mais original da palavra “igreja” refere-se em primeiro lugar à comunidade reunida em torno de seu Senhor Ressuscitado. Só mais tarde essa palavra começará a ser empregada para designar o local onde a igreja, isto é, a comunidade, se reunia.


É esse o sentido com o qual São Paulo emprega o termo no final da carta aos Romanos: “Saúda-vos Gaio que hospeda a mim e à toda a igreja [isto é, a comunidade]”. (Rm 16, 23).


Portanto, São Paulo apenas confirma aquilo que já nos fora informado pelos Atos dos Apóstolos (cf. At 2, 46): o primeiro local de reunião da comunidade cristã é uma casa.


Ao contrário dos templos pagãos, que eram percebidos como a morada misteriosa dos deuses, a igreja cristã é a casa da comunidade (a chamada Domus Ecclesiae) onde o Deus verdadeiro habita. Desse modo, desde sempre, a construção igreja é apenas o sinal da verdadeira Igreja, mistério de comunhão, Povo de Deus convocado.


Como tal, toda igreja (entendida como construção) deveria explicitar através de sua arquitetura e de sua arte essa realidade mais profunda: a realidade de uma liturgia feita com a própria vida, onde o verdadeiro culto é feito em "espírito e verdade" (cf. Jo 4, 24).






Gabriel Frade

 
Sinagoga em Dura Europos decorada com pinturas figurativas

Detalhe de uma das pinturas da sinagoga

Hipótese do que seria o templo de Herodes

sábado, 10 de abril de 2010

EXPOCATÓLICA - SEGUNDO DIA

Palestra: A arquitetura eclesiástica e suas relações com a liturgia

Momento de explanação do professor Gabriel


Gabriel Frade

O Arq.Alfredo Pissinato foi convidado pelo Prof.Gabriel para falar sobre Preservação do patrimônio histórico e liturgia

Arquiteto citando as propostas de reorganização do espaço de culto de Rudolf  Schwarz

SALA DE ORAÇÃO - PROJETO DO GPPAS NA EXPOCATÓLICA 2010


Pe.Elcio durante a adoração ao santíssimo Sacramento

Detalhe do trabalho do artista sacro Gustavo Montebello

Hostensório desenhado por Gustavo Montebello especialmente para o evento- execução  Luiz Carrara

Imagem de Nossa Senhora Aparecida- Artesanato Costa
Suporte desenhado pela arquiteta Nadia Neimar- execução Luiz Carrara

O Círio foi criado por Maria Fonseca Artista Sacra

Parabéns a todos pela dedicação em especial a Arq.Nádia Neimar que coordenou os projetos,Rose Facuri na execução e Marco Antonio no apoio e montagem.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

EXPOCATÓLICA 2010- PRIMEIRO DIA

Amigos e amigas,



A Reúna arquitetos associados agradece a indicação do GPAAS para poder falar um pouco da trajetória de quase 20 anos construindo e reformando espaços para a Igreja.


Um pouco do que aprendemos nessa caminhada foi passado ontem à noite(08/04/2010) na 7ª ExpoCatólica numa palestra com clima de bate-papo cujo tema foi A Arquitetura do Espaço Sagrado.


Dentre outras informações, conceitos para uma boa arquitetura eclesial direcionaram nossa fala, com enfoque em providências que evitam resultados desastrosos com as intervenções que as comunidades anseiam e promovem, sempre no sentido de dar dignidade para nossas capelas e paróquias.


A Paróquia Santa Madre Paulina na favela de Heliópolis - São Paulo - SP, foi demonstrada como exemplo de arquitetura sustentável, com conformidade contextual e seguindo as determinações pós Concílio Vaticano II.


Regina Machado e Nádia Neimar - arquitetas.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Liturgia: entre arte e encomenda

Olá Caros,acabei de traduzir este artigo do Avvenire, jornal católico romano.

Abraços
Gabriel

“Penso em Israel, no tempo dos profetas: o povo é depositário e guardião da tradição... mas por vezes também se deixa ofuscar por ídolos sedutores, por quimeras fáceis...”. André Dall’Asta, jesuíta, diretor da Galeria San Fedele de Milão, refletindo sobre a relação entre comitente (aquele que faz a encomenda da obra, n.d.t) e artista. Pois diante do vazio deixado pelo desaparecimento de horizontes comuns e no desconcerto de uma estética que atravessou o território da dessacralização, cada vez mais e de mais lugares se pergunta onde esteja o fio condutor para encontrar uma orientação; diante disso, vai ficando cada vez mais clara a idéia de que é fundamental o projeto, isto é, a relação que se estabelece entre quem encomenda a obra (artística ou arquitetônica) e quem executal tal obra.
De que modo possa ser melhor gerenciado o projeto hoje? O comitente deve ser, como no passado, o padre ou é melhor que envolva mais sujeitos, e em certos casos, comunidades inteiras? O estado de repulsa que se registrou recentemente diante de obras importantes, como algumas igrejas novas, foi devido à carências culturais de fiéis incapazes de compreender a linguagem atual na qual se exprime o gênio criativo, à incapacidade interpretativa dos projetistas ou dos artistas, ou a um projeto frágil?

Dall’Asta aponta o dedo em direção à preparação do comitente: “No passado [o comitente] estava habitado por uma profunda espiritualidade, além de uma grande cultura. Ele tinha uma capacidade de criar uma rede de múltiplos interlocutores: artistas, teólogos, lideranças... Hoje, quando muito, trabalha-se sozinho e sem particulares competências: isto é perceptível através da qualidade ínfima de muitas obras. Creio, além disso, que falte uma reflexão séria sobre a imagem. Muitas vezes a imagem sagrada, ao invés de induzir à reflexão sobre o sentido profundo da vida e sobre a revelação de um Deus que se faz presente na história, está atravessada por um frio esteticismo, por um vácuo e por um estéril pietismo, por figurações banais e repetitivas: por uma dramática ausência de conteúdos. Demasiadas vezes nas manifestações de arte sacra encontramos imagens que vivem fora da história, oferecendo fáceis seguranças”.







Mas o que há de errado na busca de uma segurança? “Creio que seja importante distinguir entre aquilo que é consolatório e aquilo que consola. Consolatório é um pouco como dar um tapinha nas costas enquanto nos viramos para o outro lado, nos limitamos a uma atitude que não ajuda a assumir a responsabilidade ética da própria vida. É fazer-nos viver em um outro mundo, sem pedir ao fiel de encarnar-se realmente ‘neste’ mundo para mudá-lo e transformá-lo. Penso em tantas imagens melosas, adocicadas, sem envolvimento com a vida e com a história. Consoladora é, ao invés, a atitude de quem, movido por um verdadeiro encontro com o outro, volta-se para o mundo com um olhar de misericórdia, para habitá-lo e mudá-lo a partir do lado de dentro. Hoje, parece-me que o comitente não esteja preparado para perceber o significado deste desafio e não consiga interrogar-se sobre o sentido profundo de quanto se deva pedir ao artista: ‘qual experiência espiritual você deseja comunicar? De que modo a imagem me ajuda a viver uma experiência de oração, de relação com Deus e com os outros?’.







Um projeto mais amplo, com mais vozes pode bastar? “Em base aos procedimentos vigentes e às atuais problemáticas, sem dúvida alguma o projeto eclesiástico está representado pelo bispo diocesano ou por um delegado seu – especifica Francesco Buranelli, secretário da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja – mas talvez não seja errado que haja um envolvimento mais amplo de profissionais e de fiéis, de modo a evitar que existam manifestações de insatisfação ou de discordância depois que a obra tenha sido executada. Na história, a relação entre comitente e artista sempre foi direta, imediata, sem, porém, faltarem casos problemáticos. Dentre tantos, lembro-me o caso que diz respeito à intervenção de Caravaggio na Capela Cerasi de Santa Maria del Popolo em Roma: quando morreu o comitente, os herdeiros não aceitaram a obra pelo seu excessivo realismo e o pintor preparou novas telas.



Hoje a situação é diferente: Paulo VI, em seu célebre discurso aos artistas, reconheceu a autonomia expressiva dos artistas em relação ao comitente. O problema se torna mais complexo e articulado para aquilo que diz respeito às obras com finalidade litúrgica, pois será necessário atingir um compartilhar de objetivos baseado sobre um conhecimento profundo das fontes, ainda que respeitando a autonomia expressiva do artista. Comitente e artista devem cumprir um mesmo caminho: pessoalmente experimentei este procedimento quando fui diretor dos Museus Vaticanos, quando coordenei a adaptação da nova entrada. O resultado foi muito positivo; com o artista ou o arquiteto deve se discutir profundamente todos os aspectos da obra, seja no plano técnico, teológico, filológico e estético. Sem evitar o sereno confronto; mesmo a relação entre o papa Júlio II e Miquelângelo conheceu momentos de conflitualidade, mas o êxito foi a Capela Sistina”.







Que seja antes de tudo “a comissão, a fazer a arquitetura” é um fato consolidado, segundo o arquiteto Domenico Bagliani, docente no Politécnico de Turim e há trinta anos membro da Comissão litúrgica da Arquidiocese piemontesa: “Muitas vezes a Igreja e o arquiteto, ou o artista, não falam a mesma língua. É o discurso interrompido entre a Igreja e a cultura moderna que deixou um vazio no qual se inseriram projetos medíocres”, por causas muitas vezes banais: “comitentes nunca molestados pela dúvida chamam os profissionais mais à mão ou porque mais conhecidos, ou porque não questionam e correspondem ao seu próprio gosto e cultura, por vezes modesta”. Ampliar o diálogo com mais sujeitos poderia ajudar? “Depende. Ocorreu-me nos anos 70 a realização (com os colegas Bellezza, Corsico e Roncarolo), graças ao apoio de um pároco sensível e no clima do fermento pós conciliar, uma obra importante na igreja neo barroca de San Giovanni Batista di Savigliano (CN); giramos em 90° a disposição da assembléia, de modo que esta pudesse ficar fisicamente próxima ao altar; colocamos um tabernáculo muito bem desenhado no lugar do velho altar. O pároco teve que se esforçar muito para fazer compreender aos fiéis o significado da obra que, uma vez mudado o pároco, foi descuidada. Vive-se num clima de desânimo, entendamos bem, favorecido também pela atitude dos artistas”.







“Não há dúvida que o projeto de uma nova igreja, para uma comunidade paroquial deva prever um adequado e constante envolvimento da comunidade desde o início, mesmo antes de confiar o encargo do projeto– sustenta o monsenhor Giuseppe Russo, diretor do Serviço nacional para as edificações para o culto da Conferência Episcopal Italiana. Ocorre que se estabeleça um verdadeiro e próprio diálogo entre comunidade, pároco, bispo e especialistas que deverão interagir no projeto: liturgista, arquiteto e artistas. Dessa forma, a escolha do projeto litúrgico e da linha arquitetônica da igreja será o ponto de chegada de um fecundo confronto entre os diferentes componentes envolvidos, no respeito, de um lado das expectativas e das indicações do comitente e do outro da competência, do profissionalismo e da criatividade da equipe de projeto”.







Leonardo Servadio



Fonte: http://www.avvenire.it/Cultura/Liturgia+tra+arte+e+committenza_201004070751323570000.htm

domingo, 4 de abril de 2010

RESSUREIÇÃO

Dia da Ressureição
À Vítima pascal

ofereçam os cristãos

sacrifícios de louvor.

O Cordeiro resgatou as ovelhas:

Cristo, o Inocente,

reconciliou com o Pai os pecadores.

A morte e a vida

travaram um admirável combate:

Depois de morto,

vive e reina o Autor da vida

Sabemos e acreditamos:

Cristo ressuscitou dos mortos:

Ó Rei vitorioso, tende piedade de nós.

 

Falando em ressureição aproveito para postar imagens da
Igreja da Ressureição, na cidade de Ervy-França Finalizada em 1995 do arquiteto suiço Mario Botta.
Alfredo

"Pensei no projeto da casa de Deus com o espírito de construção da casa do homem."

" A catedral é agora uma oportunidade única para a construção e enriquecimento do espaço da vida, e um novo sinal esperado pelos homens. Oferece uma pausa, um momento de silêncio, uma ocasião de reflexão e de oração que fala do homem em face de mudanças rápidas e contradições da cidade contemporânea. "

"É um testemunho que nos liga ao passado glorioso "

Sacrário

Fonte Batismal

Corte Lateral

"O projeto é concebido internamente como uma grande superfície de parede, essencialmente desprovidos de aberturas do lado de fora, mas aberto na parte superior, onde a visão do céu através de grandes janelas que lançam luz dentro de espaço."





via:http://www.botta.ch